Pará concentra quase 20% das cidades com mais assassinatos

Quatro pessoas foram mortas em áreas rurais do Estado em menos de 15 dias
Das 100 cidades com os maiores índices de homicídio do país, 17 estão no Pará. O Estado, que nas últimas semanas voltou às manchetes do noticiário nacional por mortes ocorridas em conflitos agrários, registrou em dez anos um crescimento de 273% no número de assassinatos.

Segundo dados do Mapa da Violência, o total de homicídios no Pará, que em 1998 foi de 769, saltou para 2.868 dez anos depois.


No ranking nacional, em 2008, o Estado ocupava o quarto lugar entre os mais violentos quanto à taxa de homicídios para cada 100 mil habitantes: 39,2. À frente, estavam Pernambuco (50,7), Espírito Santo (56,4) e Alagoas (60,3). Em 1998, no entanto, o Pará era apenas o 19º colocado, com 13,3 homicídios. Ou seja, ganhou 15 posições em dez anos.

A média referente ao Brasil, ainda em 2008, era de 26,4 para cada 100 mil habitantes. A OMS (Organização Mundial da Saúde) considera como marca aceitável qualquer número inferior a 10 homicídios para cada 100 mil habitantes.

O Pará, além disso, tem o primeiro, o quarto e o sexto municípios com as maiores taxas de homicídio registradas em 2008. Os três estão no leste do Estado, exatamente onde se concentram os conflitos no campo.

O campeão é Itupiranga, com 160,6 homicídios para cada 100 mil habitantes. Marabá contou 125 assassinatos para cada 100 mil habitantes. Em Goianésia do Pará, a taxa foi de 109,6.
Em entrevista ao R7, o secretário de Segurança Pública do Estado, Luiz Fernandes Rocha, admitiu a gravidade da situação, mas disse que o governo vem adotando ações para baixar as estatísticas.

- Nós temos um trabalho de redução de homicídios, e redução principalmente daqueles crimes mais graves, como tráfico de drogas e roubo. Nesse primeiro quadrimestre, [comparando] com o primeiro quadrimestre do ano passado, já tivemos redução de 15% de homicídios no Estado.

Rocha evitou apontar as principais causas de homicídio no Estado, mas mencionou o tráfico de drogas como um dos motores da violência local.

- Esse tráfico influi muito nos crimes de homicídio e roubo. Só nos primeiros quatro meses [de 2011], mais de 1.300 traficantes foram presos. Com isso, houve redução dos homicídios.

Quanto às ocorrências no leste e no sul do Estado, vinculadas à luta no campo, ele afirmou que as ações de segurança serão intensificadas.

Conflitos

A região leste do Pará tem um longo histórico de conflitos no campo. Foi lá, na cidade de Eldorado dos Carajás, que 19 trabalhadores sem-terra foram mortos pela Polícia Militar quando bloqueavam uma rodovia, há 15 anos. O episódio, que ganhou o nome de massacre, alcançou repercussão internacional.

Dados da CPT (Comissão Pastoral da Terra) apontam que, entre 2001 e 2010, 160 pessoas foram assassinadas no Pará em conflitos agrários. No mesmo período, o Brasil contou 376 mortes.

Em maio, os brasileiros voltaram a acompanhar episódios de violência que envolvem sindicalistas e agricultores naquela região. Foram quatro mortes em menos de 15 dias, sendo três na região de Nova Ipixuna e uma em Eldorado dos Carajás.

Preocupado, o governo decidiu promover uma operação militar emergencial na região da Amazônia e prometeu mapear os casos mais graves de pessoas que vivem sob ameaça de morte, que receberão proteção policial.

O professor Carlos Alberto Feliciano, coordenador do Nera (Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária), da Unesp, lembra que a região Norte, além de concentrar uma série de problemas que dão origem aos conflitos, ainda sofre com a ausência das autoridades.

- Na Amazônia, a questão principal é a ausência do Estado, em relação ao controle do território. Ali tem tudo misturado: grilagem de terra, terras devolutas, militantes da causa ambiental, todos os setores envolvidos em uma região. Quando há a ausência do Estado, os conflitos se acirram cada vez mais.

Na opinião de Feliciano, enquanto o governo não interferir diretamente para resolver a questão da propriedade da terra, promovendo a reforma agrária, demarcando áreas e regularizando o que ainda está indefinido, o quadro pouco será alterado.

- Não adianta criar projetos e infraestruturas se a posse da terra é indefinida. Se há indefinição, há disputa por aquele território. O Estado tem que tomar uma posição, primeiro identificar, fazer uma varredura do processo de grilagem, porque aí você consegue identificar os atores envolvidos, quem de fato ocupa a região e quem especula.
FONTE:R7