CARTA DE ACRELANDIA VIRA MANCHETE NACIONAL

Polícia do Acre investiga carta com lista de "marcados para morrer"; desavenças políticas são pano de fundo
Uma carta anônima na qual figuram sete pessoas “marcadas” para morrer reacendeu os ânimos em Acrelândia, município de pouco mais de 12.500 habitantes localizado a 117 km de Rio Branco (AC) e que, desde ano passado, viu personagens do mundo político figurarem com mais destaque no noticiário policial. Entre políticos presos e um assassinado, a Polícia Civil trabalha com as hipóteses de vingança de um grupo contra o outro.

A correspondência manuscrita encaminhada nesta terça-feira (26) para exame grafotécnico foi localizada dentro de uma agência do Banco do Brasil ontem (25) de manhã. O conteúdo, direcionado a um vereador da cidade, Humberto Moura (PMN), citava que ele e outros dois integrantes da Câmara Municipal, os vereadores Djalma Pessoa de Oliveira (PP) e Gildezio Moura (PSDB), eram supostos alvos de atentados sob planejamento. De acordo com a carta, os marcados para morrer --além dos mandatários, também quatro professores-- seriam executados em um plano coordenado pelo pai do ex-prefeito Carlos César Nunes de Araújo (PSB), Paulo César Ferreira de Araújo (citado no material como “Paulinho”), também marido da vereadora Maria da Conceição Araújo (PSB).
O ex-prefeito, a vereadora e três ex-secretários municipais estão presos desde setembro e outubro do ano passado, segundo o TJ-AC (Tribunal de Justiça do Acre), sob acusação de envolvimento no assassinato do vereador Fernando José da Costa, o “Pinté”, em maio de 2010.

Além do encaminhamento da carta para emissão de laudo, hoje a Polícia Civil local requereu oficialmente ao banco cópias das imagens do circuito interno de câmeras. As testemunhas foram ouvidas ontem e hoje e formalizaram denúncia-crime.

Para a Secretaria de Polícia Civil do Acre, o caso merece “atenção especial” por parte do órgão “pois já há uma tensão muito intensa na cidade desde a morte do vereador", afirmou o secretário de Polícia Civil do Estado, Emílson Farias.

Conforme o secretário, o inquérito instaurado a respeito da carta com a lista de nomes tem viés político. “Pode ser uma ameaça de um lado político ou de outro --alguém produzindo prova contrária ou a favor, por exemplo, como reflexo do momento judicial--, como pode ser uma brincadeira. Nada pode ser descartado, porém, a investigação precisa avançar e, ao final, os supostos executores do plano serem ouvidos”, afirmou. “Mas vamos nos ater ao fato criminal, não às questões administrativas."
Cassação em família

As “questões administrativas” citadas pelo secretário passam por dois processos de cassação que balizam parte da tese de revés político. Oliveira, primeiro-secretário da Mesa Executiva e citado na carta, presidiu a CP (Comissão Processante) que, em março deste ano, sugeriu a cassação do ex-prefeito preso. Araújo foi acusado de quebra de decoro parlamentar, por, segundo as investigações, ter sido o mandante do assassinato do desafeto, e também de desvios em recursos do Fundeb, específicos para a educação. “A pedido do Ministério Público estadual, o TC-AC determinou uma auditoria no município e esse desvio de R$ 1,6 milhão foi detectado”, disse o vereador.

Além da cassação do ex-chefe do Executivo, outra CP, também presidida por Oliveira, analisa na próxima segunda-feira (2) relatório que pedirá a cassação também da mãe de Araújo, a vereadora Maria da Conceição Araújo. “Apontamos quebra de decoro pelos mesmos motivos que os citados ao ex-prefeito”, resumiu o vereador. Sobre a carta na qual ele próprio figura, afirmou: “Pode ter sido coisa de algum engraçadinho, como pode ter pano de fundo político também. Mas nossa rotina não mudou na Câmara nem vai mudar”.
Outro lado

O advogado do ex-prefeito, Sanderson Moura, reagiu com irritação às declarações das autoridades policiais envolvidas na investigação. Para ele, a carta sob investigação “é um factoide para deixar pessoas inocentes presas”. “Qualquer inteligência que conhece Acrelândia, de plano, vê que isso (suposta autoria ligada ao ex-prefeito) não é verdade."

Moura também diz acreditar em motivação política no episódio. “É a extensão de uma movimentação política que se criou sobre o crime do passado, e talvez até uma das pessoas citadas na carta (como potencial vítima) a tenha originado para criar uma comoção sobre o julgador do caso ou para influenciá-lo agora”, defendeu. Segundo o advogado, mesmo o assassinato do ex-vereador teria, na avaliação dele, carecido de outras frentes de investigação antes de apontar o cliente como mandante.

“O então prefeito e o vereador tinham divergências políticas, mas só isso foi levado em consideração --outras análises foram deixadas de lado. Estamos diante de uma aberração política no Acre”, finalizou.FONTE UOL